domingo, 22 de fevereiro de 2015

Pensamentos obscuros escapam por fendas que eu nem sabia que existiam em minha mente. Meu corpo entorpecido de ficar horas na mesma posição já não responde mais aos estímulos nervosos e não posso simplesmente acender outro cigarro, porque eles acabaram na noite anterior. O vento frio que entra pela janela aberta me lembra que ainda sinto algumas coisas, e a noite negra lá fora me convida a dormir, coisa que não faço há tempos. Mas não quero, não consigo. Por mais que o cansaço pese meu corpo como uma bola de ferro, minhas pálpebras não se fecham para o tão ansiado descanso. Flashes de momentos sem nexos atropelam os pensamentos acelerados e já não sei mais o que aconteceu, o que é real. Apanho minha camiseta do chão, e percebo porque a joguei lá: ela cheira a cerveja e cigarro barato, e não posso colocá-la junto com as outras roupas sujas, porque ela está ensopada da chuva que tomei no caminho de volta. Me direciono até o banheiro, abro a torneira e jogo um pouco de água no rosto e pescoço afim de espantar essa sensação ruim de que algo acontecerá em breve. Mas acho que não resolve muito. Me olho no espelho e minha aparência está horrível, com olheiras até a bochecha e o rímel borrado. Mas não me importo com isso. Deixei de me importar com certas coisas faz tempo. Aquela garota sentimental se perdeu nesse mar de sujeira que se encontra minha vida, e deve ter se afogado, porque simplesmente, não sei onde ela está e não a escuto chamar por socorro. As pessoas ao meu redor me dizem que mudei demais, e ouço isso como se fosse um "gostei da sua roupa", sem dar muita importância às coisas. Caminho até a sala pois a TV está ligada e o barulho ecoa na minha cabeça, e isso me irrita. Puxo a tomada da televisão e noto que no chão, embaixo da porta têm algumas correspondências, vou até lá, as apanho e abro. Algumas estão com a data vencida e me pergunto quantas vezes passei por aquela porta sem olhar para o chão. Eu deveria sair para pagar essas malditas contas antes que falte água ou luz, e para comprar alguma besteira pra comer, ou mais cerveja e cigarro, mas ao invés disso, volto pra cama e me atiro nela como se houvesse muito tempo que não deitava naquele colchão macio, cubro meu corpo e rosto com uma coberta e me desligo do mundo e toda essa merda, deixo meus pensamentos fluírem e o corpo relaxar, e ali viajo nas histórias dos livros e nas minhas próprias lembranças arruinadas. Sei que vou ficar ali por horas e horas, e não me preocupo mais. Ali estou a salvo, ali é o meu refúgio. E eu sempre voltarei. 

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