segunda-feira, 22 de junho de 2015

Fadada ao ridículo, bêbada e ludibriada, já não tenho mais forças nas mãos para me segurar nessa barra que me separa do chão em loopings infinitos. Meus braços doem, cansados do meu peso morto, e meus dedos estão brancos e ardentes, da pressão que fazem contra a barra para que eu não dê de cara no chão. Mas é como se nada disso importasse, desde que ainda tenha restado vinho na garrafa, tudo vai ficar bem. Eu poderia ficar aqui até sentir que todos os meus tendões se arrebentaram e então cair, como uma fruta madura cai do pé à mais ou menos dez metros de altura e esborrachar-me lá em baixo, ao som dos aplausos do público derirante com minha perfórmace, até que alguém note a poça de sangue ao redor de mim e entenda minha falha, minha tão merecida e cansada morte. Mas isso não acontecerá, não hoje pelo menos. Alguém apoia a escada para que eu possa descer, e então eu ponho uma perna na frente da outra, mecanicamente, até estar segura no chão. Involuntariamente olho pra cima, reconhecendo o lugar onde finjo ter asas e voar no meu limitado espaço, num vai e vem acrobata, me sentindo livre nos instantes que me desgrudo da barra para fazer alguma acrobacia. Como um pássaro de asas quebradas, vôo por alguns segundos e pouso em um galho para descançar. Trapezista entre um problema e outro, pulando de galho em galho, tentando me safar, e me equilibrar no ar, esforçando-me para oferecer uma apresentação gloriosa. E mesmo que ninguém me aplauda ao final de tudo, eu baterei palmas, porque eu sei das dificuldades de estar lá em cima, do medo, da insegurança, da força que é preciso fazer, do risco, dos problemas, e da liberdade de estar solta, sem nada me prendendo, mesmo que só por alguns instantes. Precisamos parar de querer emocionar um público qualquer. Nos impressionemos nós mesmos com o que somos capazes de fazer para sobrevivermos, e percebamos, quão magníficos seres nós somos, nos equilibrando na corda bamba da vida. 

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