segunda-feira, 27 de julho de 2015

Como pude simplesmente te deixar ir embora? Não sei. Tudo que sei é que te assisti caminhar pra longe enquanto o vento apagava suas pegadas, para que não corresse o risco de eu te rastrear um dia. É estranho pensar que sinto falta até do que não tive quando o assunto é você, e mesmo assim, não consigo me arrepender de não ter feito nada, porque as razões que me freiaram são bem maiores do que as que impulsionariam meus pés na sua direção, suplicantes por seu retorno. Mesmo eu não tendo te falado tudo, sei que no fundo você sabe o que está acontecendo agora, aqui, e não queria que fosse assim. Talvez tivesse pintado em minha cabeça uma imagem mais fácil e simplória desse adeus, o que obviamente não aconteceu. Partilhamos muitas coisas, coisas que o tempo não é capaz de apagar, nem a distância de destruir. Risos, dores, saudades... Às vezes eu me olho e me sinto feliz por não estar aqui pra ver o quão embarassosa e bagunçada minha vida está, e o quão terrível eu sou lidando com tudo isso que sabia ser inevitável desde muito tempo. Me sinto bem por não poder medir o tamanho do vazio que ficou por aqui, com as lembranças que insistem em martelar minha mente, me impedindo de dormir, relembrando-me do teu rosto. Eu sou horrível, não estou tornando nada mais fácil pra você, eu sei, e deveria, mas tá complicado ficar em silêncio encolhida toda madrugada pensando em coisas que não acontecerão, como a sua volta, impossível, improvável, mas as lembranças pertinentes não me deixam acostumar com isso, por mais que eu queira encarar os fatos, continuo negando-os pra mim, não sei porque, talvez porque vai doer de qualquer jeito, então que seja pelo menos uma dor acompanhada de esperança, mesmo que em vão. Eu queria naquele dia ter feito você se virar, queria ter libertado meu choro agonizante, queria poder te dizer tudo o que eu gostaria, te contar as razões pelas quais sua falta é algo irreparável, e no entanto, fui forte. Te abracei como se fôssemos nos ver na próxima semana, te assisti ir embora parada feito uma rocha, consistente por fora, mas quebrada por dentro. Naquela última vez que me olhou, pela janela, eu apenas acenei e sorri, mas talvez essa tenha sido uma das coisas mais difíceis que fiz nos últimos tempos, porque eu queria gritar que eu vou continuar aqui, que caso queira voltar, eu vou te buscar no aeroporto e te abraçar como nas nossas lembranças. Mas nós sabemos que seria arriscado demais despejar todo esse fardo sobre você, por isso, eu o carreguei comigo de volta pra casa, desabei no chão com uma caixa de cigarros e deixei que tudo o que eu estava reprimindo saísse. Não sei quando essa agonia toda vai  passar, mas espero que passe. E logo. Não quero interferir tão negativamente na sua vida assim, não quero continuar alimentando falsas esperanças. Se tens que ir, vá. Eu vou me acostumar um dia. Até lá, não me faltarão cigarros, palavras ou vinho para fazer companhia à minha solidão. 

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