quarta-feira, 1 de julho de 2015

Marco meu corpo agora para que os vestígios de tuas visitas desapareçam junto com o sangue que verte. Tua presença deixou marcas profundas em meu ser, interior e exteriormente, e se eu as deixar a mostra, jamais te perdoarei por tudo o que me causaste. Preciso apagar sua estada, as vezes que te deixei entrar em mim, ficar, morar... Preciso tirar de mim a sujeira que ficou de quando você se aconchegava em meu peito trazendo poeira de outros corpos que havias visitado sem que eu soubesse. E banho nenhum me alivia nem refresca a alma. Suas marcas não são superficiais, e você as deixou por toda parte. Sua bagunça ainda está aqui no resto que deixou de mim. E preciso me encontrar agora. Por isso apago seus traços, deixo pra trás as linhas desenhadas em mim por ti, e suas marcas de unha das noites quentes de prazer. Abdico-me de suas lembranças, e não a quero como visitante, nem de minha casa, tão pouco do meu corpo, que agora é só meu, e não mais divido com você, que dividias o teu com demais garotas ingênuas. Tiro meu sangue para te tirar por inteiro de mim. Purifico meu coração que bateu descompassado a cada vez que chegavas. Limpo meus pulmões que suspiravam de emoção a cada surpresa boba que me fazia. Faxino meu corpo e alma, que foi sua morada e você fez questão de se mudar deixando a desordem pra trás, e agora eu organizo. Limpo sua sujeira e seu nome do meu corpo e dos meus cadernos. Apago as cartas que escrevi e não lhe enviei. Rasgo as fotografias e memórias que construímos juntas, e que fizeste questão de estragar a maioria com idiotices. Fumo meu último cigarro para que a fumaça mate asfixiado qualquer vestígio seu que por teimosia tenha sobrado. Desenho outros amores no lugar onde era reservado para o seu. Pinto outros quadros em mim para substituir suas fotos. Bebo vinho para brindar o sangue que escorre e me liberta de você de uma vez por todas, e agora aqui estou, livre de sua bagunça, da sua sujeira e das suas mentiras. Tenho agora novos traços sobre mim, feitos por outros visitantes, alguns bem melhores que você. Minha casa e vida estão organizadas, e jamais permitirei que alguém faça tamanha desordem como você fez. Sou dona de mim, do meu corpo e da minha casa. E agora não mais preciso das suas sombras e memórias para me assombrar, pois a noite já não mais me assusta. Mesmo quando estou sozinha. 

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