segunda-feira, 25 de abril de 2016

Acontecimentos recentes me fizeram refletir sobre algumas coisas. Estranho como a gente se acostuma com as coisas/pessoas ruins. Falando por mim, que já estava tão acostumada a ter que esconder meu amor da sociedade, a ter que namorar/beijar escondido, a receber olhares tortos e escutar palavras rudes por causa da minha orientação sexual, passei a simplesmente esperar isso das pessoas. Sempre. Mas de vez em quando a gente conhece seres humanos que valem à pena. Infelizmente são raros, mas estão lá, em algum lugar. Mesmo que nos esqueçamos deles. E eu havia me esquecido há muito como é ser eu mesma na frente de pessoas estranhas, e ser aceita por isso, sem julgamentos, questionamentos ou críticas. É tão gratificante que encoraja a gente. Dá vontade de gritar pro mundo que aquelas pessoas me entendem, que elas sabem que não estou cometendo nenhum crime por gostar de uma outra garota, que isso não é errado, que não sou nenhuma aberração. Mas o pior de se acostumar com a maldade alheia, é que a gente começa a esperar ela de todo mundo, inclusive das pessoas mais próximas a nós. Me peguei diversas vezes pensando no que minha mãe diria se soubesse que não teria um genro, nunca. E eu sinto vergonha das coisas que imaginava ela me dizendo, sinceramente, porque não eram nada legais. Me imaginava sendo expulsa de casa, a vergonha da família. E isso me aterrorizou durante muito tempo. Mas aí, coisas inesperadas aconteceram. Pessoas inesperadas vieram. E me fizeram enxergar que talvez eu estivesse errada. Em relação às outras pessoas, em relação à minha mãe, em relação à mim mesma. E isso me deu coragem pra responder as perguntas da minha mãe abertamente, sem gaguejar, sem titubear, sem olhar pra baixo, sem chorar. Olhos nos olhos, francamente, ela me perguntou e eu respondi. Firme. Me tremendo toda por dentro, por medo da reação dela, mas ao mesmo tempo, era como se o peso do mundo tivesse sendo tirado dos meus ombros a cada palavra dita, cada frase formada, cada pergunta respondida. Não tenho como dizer que ela ficou feliz ou triste. Foi uma conversa tensa, mas franca. No fim, ela não disse que me amava, mas também não disse que me odiava. Ela não me abraçou, mas não me repudiou. Não disse que me entende, mas seu silêncio deixou claro que me respeita. Ela não parou de falar comigo, não parou de me olhar nos olhos. Ela ainda é a minha mãe, e eu sinto que ela me ama da mesma maneira de antes, assim como eu a amo, apesar de nossas inúmeras diferenças. O fato é que eu esperei um discurso cheio de mágoas, lágrimas, esperava ela dizer que eu era uma vergonha, que a havia decepcionado, e na verdade, ela me disse que entendia porque eu havia me afastado da nossa família, porque sabia que todos iam comentar e torcer o nariz. Esperei um "tapa" e ela me deu um "abraço", mesmo que não no sentido literal da palavra, me senti segura, acolhida. Me senti menos suja por não ter que mentir mais pra ela sobre minha vida. Incrivelmente, em vinte anos de convivência, foi o dia em que eu estive mais próxima da minha mãe, como filha. Foi quando senti a amizade e o amor dela mais vivos. Disso tudo, tiro muitas coisas boas apesar dos pesares. Sou uma pessoa de sorte. E sei disso. Tenho tantos amigos do meio LGBTT que gostariam do silêncio que minha mãe fez ao invés das acusações que ouviram quando se assumiram, que amariam o olhar confuso, mas de cumplicidade da minha mãe ao invés dos ataques de fúria e revolta. Eu costumava pensar que os receberia também, que sofreria tanto quanto eles, por isso adiei tanto essa "saída do armário". Preferi me reprimir a cogitar a hipótese de ser aceita. Mas sou uma pessoa de sorte, e mesmo tendo nascido em uma família tradicional, católica, temente a deus e essas coisas que são usados em discursos de ódio gratuito contra nós todos os dias, ainda assim, minha mãe conseguiu ser a pessoa mais linda do mundo, mesmo não tendo falado muito, mesmo não tendo demonstrado muito. Significou muito pra mim. Tive que conhecer anjos para descobrir que morava com um. Enfim, se puder resumir todo esse texto em uma palavra: GRATIDÃO. Pelas pessoas que a vida me apresentou, pelos caminhos que percorri até aqui, pela família que possuo, por me redescobrir em mim mesma. 

domingo, 3 de abril de 2016

Tenho andado tão absorta em meu mundo de séries e filmes que me esqueço do mundo real, onde coisas ruins acontecem, e escrever é minha válvula de escape. Tenho dedicado menos tempo pra reclamações e aproveitado melhor o tempo ócio, e por hora, está sendo bom. Mas sinto falta da liberdade de sentar e escrever qualquer coisa, mesmo que inútil. Sinto saudades de digitar sobre meu dia, meus planos, sonhos e frustrações, mesmo sabendo que ninguém venha a ler. Por isso, dedicarei alguns minutos do meu dia a desabafar. Ontem eu fui ver o pôr do sol. Estava angustiada, desesperada. Me sentia sufocada, precisava de um lugar aberto. Ali é meu ponto de paz, onde me sento e me perco por horas observando o sol se despedir lentamente, e a noite chegar, reconfortante. Naquele lugar, sentada naquela pedra, observando a imensidão do céu, percebo quão pequena sou em meio a todo esse mundo caótico. Esqueço meus problemas, vergonhas, dores. Somos só eu e o vazio a minha volta, o silêncio, o vento, e o sol, mesmo fraco, a iluminar tudo isso. Sempre que me sinto perdida, busco refúgio nesse lugar. Onde eu quase consigo fugir de mim mesma e dessa esquizofrenia ambulante que me tornei. Paro, penso, reflito, medito. É incrível como o lugar é o mesmo, a pedra é a mesma, o sol é o mesmo, mas a cada vez que vou lá, consigo voltar diferente. Menos mesquinha, talvez. Menos egoísta. Talvez tenha a ver com encarar a imensidão, e perceber que não sou nada perto de toda a grandeza do universo. Ou talvez, apenas preciso ficar um tempo comigo mesma, sem platéia, somente em contato com a natureza. Bom ou ruim, é pra lá que eu corro quando tudo fica pesado demais sobre os meus ombros e parece que vou ceder ao peso. E lá redescubro minha força, recarrego as energias, e volto cheia de planos.