Lá vem Bach de novo mas
sabe-se até quando vamos resistir?
É uma boa música
mas o que quero dizer e saber:
até quando seremos capazes de ouvir
o que ele tem a dizer?
pontos de interrogação às vezes são
desanimadores
quanto mais e mais carentes
nós ficamos
mais gigantes como Bach irão desaparecer
de nossos pensamentos e de nossas vidas e
o sabor e o toque de sua música
será como encontrar meu amor morto
acabando de morrer
os olhos fechados
seu corpo ainda macio
ainda quente
seus cabelos se derramando sobre meu braço.
ouço Bach sempre que posso
e meu amor está vindo pra cá essa noite
em sua Kombi 1966
enquanto gelo o vinho e espero.
seu cabelo é da cor mais estranha:
vermelho com dourado
tal como exércitos conquistadores
esmagam lesmas
esmagam narcisos.
ela tem mãos pequenas
pés pequenos.
nós brigamos
rimos quase sempre.
estou ouvindo Bach agora.
a música para.
ela dirige aquele maldito ônibus em miniatura
como um
Barco a remo pelas corredeiras
se ela ouvisse meu coração
ela iria mais devagar
bem mais devagar.
por favor me deixe morrer
antes porque sou mais velho
bem mais velho.
escuta Bach, o seu deus e o meu deus
são reais mas
ajudam só momentaneamente.
quero que você
me diga que está tudo
bem
e que os cabelos vermelhos e dourados dela
serão
espalhados
sobre meu travesseiro de novo.
os seus pés pequenos
as suas mãos pequenas
os seus dedos acariciando meus olhos e
minhas orelhas e o seu riso me
consolam.
- Charles Bukowski, Kombi 1966.
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