quarta-feira, 5 de julho de 2023

 O Vale da Inquietude

Edgar Allan Poe

Dantes, silente vale sorria.

Era um vale onde ninguém vivia.

Haviam todos partido em guerra,

deixando os doces olhos de estrelas

noturnamente velarem pelas

flores formosas daquela terra,

em cujos braços, dia após dia,

a luz vermelha do sol dormia.

Não há viajante que, hoje, não fale

sobre a inquietude do triste vale.

Lá, agora, tudo é só movimento,

exceto os ares, pesando, adustos,

nas soledades de encantamento.

Ah! nenhum vento move os arbustos

que vibram como as ondas geladas

em torno às Hébridas enevoadas!

Ah! nenhum vento essas nuvens guia,

murmurejantes, nos céus insanos,

e que se arrastam, por todo o dia,

sobre violetas, que alguém diria

serem milhares de olhos humanos,

e sobre lírios, de haste pendida,

chorando em tumba desconhecida,

tremendo; e sempre caem, com o perfume,

gotas de orvalho do flóreo cume,

chorando; e desce, nas hastes frias,

um pranto eterno de pradarias.

Nenhum comentário:

Postar um comentário