quinta-feira, 4 de junho de 2015

Eu até tento me afastar, mas sempre que me sinto completamente só, o eco dos meus pensamentos gritam por seu nome, e mesmo não querendo admitir, eu espero desesperadamente que você possa me ouvir. E eu acho que você ouve, porque mesmo que demore, seus sinais sempre acham um jeito de me encontrar, não importa quão perdida eu esteja. E parece que me perdi de novo. Acho que estou começando a ficar boa nessa coisa de recomeçar do zero, me achar no meio do nada e construir algo a partir do silêncio agonizante. É como reaprender a andar, depois de anos sem fazê-lo. Você começa assustado e cambaleante, mas se acostuma com o peso do seu corpo e acaba descobrindo que suas pernas, embora pareçam frágeis, foram feitas para suportá-lo. Assim é perder-se e encontrar-se em meio ao caótico nada de um mundo submerso e frio. Essa é a sensação de sair da trilha e achar um outro caminho, que leva a outro lugar. Talvez as comparações que eu faço não sejam tão boas para uma explicação, mas não sei colocar essas sensações de outra forma. É como desbravar o universo que existe dentro de você mesmo, o que você criou. E sinto que mesmo depois de andar por horas, dias, quiçá semanas perdida, vagando num enorme nada, você ainda consegue me buscar onde quer que eu esteja. Sua luz sempre me encontra na escuridão e me guia de volta por caminhos tortuosos, até que eu encontre a saída que me leva de volta à trilha que antes havia abandonado. E parece que ambas nos acostumamos com isso, essa rotina entre perder e encontrar o caminho. Esse desejo que você sente de me proteger e me salvar de tudo e de todos, esse medo de que eu possa achar outros lugares, outras pessoas, outras estradas, tornam-te possessiva e até exageradamente cautelosa. Mas vou dizer-te agora algumas coisas, preste atenção. Você não pode me proteger de tudo e de todos, e eu não quero ser protegida. Preciso de liberdade para fazer minhas próprias escolhas, e caminhar pelo caminho que eu escolhi, sem você à tira colo, me guardando das minhas más decisões. Preciso aprender a caminhar por mim mesma, a enfrentar meus dragões. Preciso errar e acertar, como todo mundo. Preciso viver um dia de cada vez, com calma. Cada suspiro que dou parece uma rebelião inteira das coisas que represo aqui dentro de mim, e não quero continuar com isso. Às vezes é preciso sacrificar algumas coisas para sobreviver à outras, e não tem nada de errado com isso. São as escolhas que fazemos que definimos o que somos, no fim de tudo. Mesmo não querendo dizer adeus, eu preciso partir, porque isso já foi mais longe demais, mais até do que eu aguentaria ir. Preciso ter autonomia sobre certas coisas, e você precisa se acostumar com isso. Não sou mais aquela criança indefesa das suas memórias, eu posso tomar conta de mim mesma daqui pra frente. E mesmo que eu não o faça tão bem quanto você, mesmo que eu me descuide e faça as piores escolhas, as consequências disso precisam ser minhas, entende? Você não pode ganhar meu jogo perdido toda vez. E eu não quero que faça isso. Quero saborear de tudo, vitória e derrota, medo e coragem, sabedoria e ignorância, erros e acertos, consequências e gratidão. Quero tudo o que me pertence, sendo bom ou não, e quero agora. Não posso deixar pra depois, porque o depois é por demais incerto para que sejam nele constuído planos. 

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