quinta-feira, 24 de março de 2016

Não vou mentir dizendo que li tudo o que me escreveu. Tão pouco vou me fazer de forte e dizer que nenhuma lágrima caiu dos meus olhos ao relembrar certas coisas. Sobretudo, não vou negar pra mim mesma nem pra você que a amei. De verdade, te amei por completo. Amei seus defeitos e qualidades, amei tudo aquilo que todos condenavam e ainda condenam em você, fui contra todos e preferia ficar ao seu lado do que com pessoas que eu saberia que te julgariam mal, afinal, eles não te viam como eu te via. Sinceramente, se foi intencional ou não, me sinto aberta em feridas. Toda a dor que senti nesses três anos de convivência pelos momentos ruins, e a dor que senti agora revivendo os momentos bons que passamos e jamais voltarão me dilaceraram como lâminas afiadas de um bisturi me cortando em carne viva, sem anestesia, consciente. Ninguém entende, ninguém sabe o que passamos, sempre vão nos julgar pelos motivos, escolhas e aparências erradas. Não me importo. Dizer que você já não tem mais importância pra mim não posso, sinceramente. Revirando essas cartas, me revirou o estômago também. Coloquei pra fora tudo de tóxico que me envenenara todo esse tempo. Fiquei tonta, sem ar, sem reação. Suas palavras me atingiram como uma pesada bola de ferro que esmagou tudo aquilo que eu tinha construído sem você, e talvez nem fosse essa a sua intenção, mas novamente, você me machucou. Não vou reclamar disso, ambas erramos, ambas nos machucamos. Mas eu procuro não reabrir feridas fechadas, porque sei o quanto dói a infecção, sei o quanto arde passar por tudo aquilo de novo. Mas você, naturalmente, tem talento para se torturar, e me torturar. Me fez viajar há três anos, quando tudo começou, numa narrativa dolorosa, tortuosa, cheia de lembranças boas que me fizeram sentir saudades, mas ao mesmo tempo já não quero mais. As feridas estão reabertas, vou me esforçar para fechá-las. Sei que contigo, por mais que tentemos negar, elas vão estar sempre em carne viva, e não quero isso novamente. Suportei tempo demais nessa angústia, engoli muita coisa, não que você não o tenha feito, não que eu não tenha errado, no fim, seremos sempre culpadas por esse fim imutável, por parecermos completas desconhecidas, embora tenhamos histórias pra contar. Nossa história, que agora se bifurca, e passa a ser individual, minha e sua, não mais compartilhamos os mesmos gostos, os mesmos lugares, as mesmas fotos... Não cabemos mais no mundo uma da outra. Golpe baixo trazer à tona sofrimentos de quatro anos atrás que tento em vão esquecer. Minha maior fraqueza, meu maior fracasso. De novo, cortes reabertos dolorosamente, lembranças trazidas à tona, e pra que? Pra me fazer chorar? Pra que eu me sinta culpada e fracassada por tudo o que aconteceu? Pra que eu te peça perdão? De novo? Quantas vezes já te escrevi pedindo desculpas por ser o que eu sou? Por não ser o que você queria ou merecia? Qual o objetivo de me bombardear com suas palavras feito ondas furiosas em uma tempestade no mar? Se quer saber minha real reação, eu morri. Morri lendo cada uma daquelas palavras, e ainda morrerei mais, pois não li nem metade do que me escreveu, porque sinceramente, não consegui. As paredes estão se fechando a minha volta e tudo que eu queria era sumir pra não me sentir esse vazio, essa imensidão que existe em mim, que antes pertencia a você, mas não posso. Morrerei amanhã novamente, talvez depois de amanhã, não sei. Não me falta coragem para relembrar, me falta resistência à dor. Hoje vejo que não nos restou nada, e que isso ainda dói. Mas não há mais saídas, não há para onde correr, ou para quem gritar por socorro. Acabou, game over. É o fim da linha, para ambas, só restam as lembranças e as cicatrizes. Essas cartas, guardarei pra sempre, como um lembrete de tudo que fiz de bom e ruim a você, e a mim também. Não pense que eu não senti, que não me comovi, apenas não encontro mais motivos para mais tristezas, porque quando não se tem alegrias, uma tristeza a mais, outra a menos, acaba não fazendo tanta diferença. Acostumamos com tudo, presenças e ausências. Assim como eu, que um dia fui tão dependente do seu amor e carinho, que um dia jamais imaginei minha vida sem você, hoje sigo com a consciência tranquila de que errei, mas fiz minhas escolhas, do jeito que deveria fazer, você também deve seguir seu caminho, seu rumo. Não somos mais as mesmas, não pertencemos mais aos padrões que seguíamos. Começamos e terminamos sem nada além de lembretes, tempos bons, alegrias e tristezas. Mesmo que me doa, não me sinto mais culpada, não consigo me arrepender dos motivos e razões que me levaram a estar aqui, onde estou. Se precisar de alguma coisa, saiba que pode contar comigo, não lhe virei as costas. Apenas não creio que consigamos dividir o mesmo espaço amistosamente, então prefiro me recolher ao meu vazio. Mas ainda estou aqui, sabe onde me achar. Acabarei de ler depois, estou cansada, chorei, sorri, morri, vivi... Não tem muito mais o que dizer, tentamos, funcionou por um tempo, hoje não mais. Só posso dizer que lamento pelo rumo que as coisas tomaram. Querendo ou não, você sempre será parte de mim, e eu sempre me lembrarei de você, como uma parte boa ou ruim, com carinho ou ódio, você sempre vai ter seu espaço aqui, então, não vamos nos ater à perdas. Falemos dos ganhos, do que uma trouxe de bom para a outra, e tentemos seguir em frente sem mais nos machucarmos nesse caos que se tornou nossas vidas. Despeço-me aqui, achei que te devia uma explicação, ou sei lá, talvez eu apenas precisasse colocar tudo pra fora de uma vez. Te cuida, não lhe desejo mal algum. Espero que sejas feliz e encontre alguém que te mereça como um dia eu achei merecer. 

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