sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Encaro a platéia desanimada que espera que eu os entretenha. Tenho alguns truques na manga, espero ser suficiente. No centro do picadeiro, me desdobro em mil para conseguir chamar a atenção do meu exigente público. Palhaço, mágico, equilibrista, domador. Por alguns minutos os tenho, o foco é meu. As luzes me cegam, mas meus olhos se acostumam aos poucos ao excesso de luminosidade. Destaco alguns pares de olhos curiosos, que me seguem pelo palco, mas logo se distraem. Não é suficiente. Encaro o público novamente, esgotando minhas opções. Escrevo, toco, canto. Me desespero para tentar ter a atenção de todos e sei que falho. Furiosa comigo mesma, reconheço que não tenho talento para a vida circense. Minha tarefa era simples, e ainda assim, consegui falhar. E quanto mais me esforço para direcionar os holofotes para mim, mais eles se desviam para outros cantos, onde não posso alcançar, onde sou invisível. Meu fiasco espetáculo diário termina e mais uma vez as cortinas se fecham para um público apático e alheio. Repito o mantra de que amanhã será diferente, mesmo não acreditando muito nisso. 

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